Adquirir uma base de clientes é ter acesso a uma lista de milhares de aposentados, com nomes, telefones, endereços e valor do benefício. Há sistemas de informação em que documentos sigilosos, como extratos de pagamentos dos aposentados junto ao hza, são acessados por terceiros de qualquer computador. Alguns negociadores vão além e vendem carteiras de clientes, o que inclui cópias dos documentos pessoais — isso facilita a ação de falsificadores de assinaturas.
A compra das informações no mercado paralelo é opção para quem é novo no ramo e não dispõe de histórico próprio de contatos. Agenciadores e representantes bancários que desejam ampliar negócios também recorrem à prática.
A atualização das informações é tão veloz que alguns beneficiários ficam sabendo que estão aposentados pelos correspondentes bancários em vez do INSS, trazendo consigo a oferta de crédito consignado e seguros.
A Gaúcha ZH entrou em seis grupos de WhatsApp de corretores, ambientes onde cadastros são negociados. "Super promoção. Saiu listagem Siape (servidores federais) folha de maio de 2019. São mais de dois milhões de registros. De R$ 350 por apenas R$ 149,99. Mas é só hoje", anunciou um telefone do Espírito Santo no grupo Tops Consignados. "Vendo minha carteira de documentos, preço de banana...R$ 500, mais de dois mil documentos para se trabalhar os clientes", divulgou um número de Minas Gerais no grupo Corretores Consignados.
Um indivíduo com telefone do Rio de Janeiro oferece diariamente suas listagens em vários grupos de WhatsApp de corretores. A reportagem questionou se ele conseguiria a relação dos entrantes (os que se aposentaram recentemente) do INSS do Rio Grande do Sul. Após alguns minutos, a resposta: "97.100 entrantes por R$ 560". Para o país, a oferta era 558 mil nomes por R$ 760.
Nos grupos, também são recorrentes as reclamações de corretores que não compactuam com as fraudes. Eles acusam colegas de serem "pilantras", "fraudadores", "caloteiros", entre outras definições.
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