Fora do círculo familiar, não existe interação mais importante para as crianças do que a com seus professores.
Elas “leem” quase literalmente os lábios e as expressões faciais dos professores, em especial quando começam a distinguir as diferenças entre as palavras faladas e as escritas, as atitudes que devem ser incentivadas e a recompensa deliciosa que é receber aprovação tácita
Os professores tornam-se mestres em desvendar situações não explícitas. Quando os alunos não estão acompanhando o conteúdo apresentado, quando fingem que prestam atenção mas estão grudados no celular escondido e outros truques.
Como manter essa dinâmica essencial quando estão todos de máscara?
Como garantir aos pais que é seguro mandar seus filhos de volta para a escola com um vírus que continua a rondar, especialmente nos países europeus onde parecia tão dominado?
Como fazer que crianças e adolescentes usem direito a proteção quando os próprios adultos usam máscara no queixo, pendurada por uma alça só, e principalmente, máscara no bolso?
O governo britânico já tomou três decisões a respeito: nada de máscaras, máscaras para todos os alunos acima de 11 anos e , agora, máscaras apenas nos pátios e corredores.
Serão obrigatórias nas escolas de áreas que voltaram para o lockdown. Nas outras, os diretores decidem.
A discussão sobre uso de máscaras para crianças e adolescentes reflete as divergências sobre os efeitos do novo coronavírus nessa faixa.
A Organização Mundial de Saúde calcula que apenas de 1% a 3% dos atingidos pela infecção globalmente eram crianças e adolescentes. Na população total, eles são 29%.
Em todo o Reino Unido, nos quatro meses de ascensão e declínio do vírus, com quase 42 mil vítimas fatais, foram 15 mortos na faixa abaixo de 19 anos.
Apesar do jeito um pouco seco, os números confirmam sua avaliação: no mesmo período de quatro meses, morrem em média 44 menores em acidentes de trânsito e 28 de gripe.
A possibilidade de que as crianças sejam muitíssimo menos afetadas pelo vírus, mas funcionem como vetores da infecção preocupa especialmente os professores.
Esta hipóteses já foi testada na prática na Grã-Bretanha. Em junho, as escolas reabriram rapidamente, antes das férias de verão, para filhos de profissionais em atividades essenciais.
Nesse período, 1,6 milhão de crianças voltaram às aulas. No total da pré-escola e primeiro grau, foram infectadas 70 crianças e 128 pessoas do corpo docente. Destes, segundo os levantamentos sanitário a maioria foi contagiada por outros adultos.
Nenhuma criança precisou ser hospitalizada.
Na Europa em geral, um estudo publicando na Lancet acompanhou 582 menores de 18 anos infectados pelo vírus em 25 países. O período avaliado foi o das três primeiras semanas de abril, como o novo coronavírus estava no pico.
Dos pesquisados, 145 tinham doenças pré-existentes – o estudo foi feito através de grupos já em operação para o estudo de tuberculose pediátrica. No total, 48 precisaram de internação em UTI e 25 de ventilação mecânica. Dois morreram.
Como em tantos outros aspectos dessa doença, várias dúvidas persistem, principalmente quando envolvem a preciosidade da vida de uma criança.
Mas determinar o uso de máscara nas escolas só para parecer que “está fazendo alguma coisa” e se precaver de eventuais acusações de negligência não é atitude de
governos sérios.
Fonte:Veja
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