De acordo com um levantamento do Unicef, em novembro de 2020, quase 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam a escola (remota ou presencialmente) no Brasil. Outros 3,7 milhões de estudantes matriculados não tiveram acesso a atividades escolares e não conseguiram estudar em casa.
No total, 5,1 milhões tinha acesso à educação, em São Paulo, 667 mil estudantes de 6 a 17 anos ficaram sem estudar em 2020, o que representa 9,2% das crianças e adolescentes em idade escolar no Estado.
O Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e o Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) avaliaram a eficiência dos planos de educação remota de Estados e capitais. Os resultados, mensurados entre março e outubro de 2020, mostram um cenário bem ruim: a nota média dos planos estaduais no Índice de Educação à Distância foi de 2,38 (de 0 a 10) e de 1,6 para os das capitais.
O estudo da FGV também apontou que faltou uma supervisão para verificar se os alunos estavam de fato acompanhando as aulas e houve pouca oferta de formas de acesso, dando aparelhos ou a conexão de internet para que os estudantes conseguissem assistir às aulas online.
"A quase totalidade dos Estados decidiu pela transmissão via internet, (mas) apenas cerca de 15% deles distribuíram dispositivos e menos de 10% subsidiaram o acesso à internet", escrevem os pesquisadores Lorena Barberia, Luiz Cantarelli e Pedro Schmalz. A maioria dos planos falhou em oferecer estratégias de interação com professores, e também de supervisão e estímulo à presença, concluiu o estudo.
A presidente do Sindicato dos Educadores da Infância (Sedin), Claudete Alves, disse que a Prefeitura de São Paulo não distribuiu o material necessário para que alunos e professores pudessem ter aulas à distância. Ela disse que até foram enviados tablets para escolas, mas quase nenhum foi entregue porque estão sem chip.
"Houve situações de que o material chegou na escola, mas não foi destinado aos alunos. Fora os educadores que foram colocados do dia para a noite para atuar numa modalidade que eles nunca tinham trabalhado, sem nenhum preparo. Também não foi disponibilizado a eles internet ou equipamento para que pudessem ministrar as aulas em casa", afirmou. Os professores municipais estão em greve por tempo indeterminado. A presidente do Sedin disse que os servidores não voltarão enquanto se sentirem completamente seguros e vacinados.
"Apesar de toda a pressão e medo de ter o salário descontado, vamos manter (a greve). Os (professores) que voltaram estão numa situação de insegurança absurda, trabalhando com medo. Os pais também não estão mandando os filhos. Hoje, vi a frequência de três escolas com capacidade para cerca de 500 alunos, mas a mais cheia tinha só nove estudantes. As pessoas sabem que vivemos o pior momento da pandemia", disse. A sindicalista Claudete Alves, que já foi vereadora em São Paulo por dois mandatos, também faz críticas ao modelo de concessão de parte do ensino municipal.
"É transferir a responsabilidade de atendimento público para organizações sociais. Apesar de termos ilhas de excelência com grande qualidade, a grande maioria está sob investigação do Ministério Público. Hoje, qualquer puxadinho com quarto e cozinha nas periferias se transformou em educação infantil. Também é necessário entender que o aluno do Butantã tem necessidades diferentes do que vive na Cidade Tiradentes e que são necessárias ações mais focadas para reconhecer essas diferenças sociais."
A Prefeitura de São Paulo comprou, em agosto de 2020, 465 mil tablets para distribuir aos alunos mais pobres. A promessa é de que todos sejam entregues até o fim de 2021, mas até agora menos de 70 mil estudantes receberam os equipamentos.
A presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e deputada estadual, Professora Bebel, afirmou que o Estado falhou ao deixar de investir e modernizar a educação. "Estamos hoje com o modelo de escola que Dom João 6º implantou: lousa, giz e apagador. Veio a pandemia e ficou claro que estamos na quarta revolução industrial, em plena digitalização, e os jovens convivendo com celulares e tecnologia, mas nas escolas não.", afirmou a sindicalista.
Assim como o sindicato dos professores municipais, a Apeoesp também está em greve sob o argumento de que as escolas não estão preparadas para o retorno do ensino presencial. Um levantamento feito pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e o Dieese, a pedido da Apeoesp, identificou que 82% das escolas não têm mais de 2 banheiros e não possuem bebedouros. Dessa maneira, os alunos bebem água no bico das torneiras e pias. "Isso está em descompasso com o ambiente seguro que o secretário da Educação relatou nas escolas. Não tem sentido voltar às aulas como estão as coisas. Haverá perdas para a criança e para o professor, mas nada que você não consiga resolver num pós pandemia. Estão morrendo pessoas de 30 anos, mas os professores só serão vacinados acima dos 47. Vamos bater o pé para que a vacinação seja para todos", disse.
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